FADIGA DO ZOOM E SÍNDROME DE BURNOUT EM QUEM FAZ HOME OFFICE É ABORDADO EM CONGRESSO DO TRABALHO SEGURO EM PERNAMBUCO

15/12/2022 13:53

De um lado, flexibilização da jornada, economia de tempo no trajeto casa-trabalho-casa e autonomia na organização do modo de trabalhar. Por outro, estresse e descontrole da atividade, invasão do espaço privado e maior temor do fracasso. O alerta foi feito pela juíza Mirella Cahú, da 4ª Vara do Trabalho de João Pessoa, durante o IX Congresso Pernambucano do Trabalho Seguro. O evento foi promovido pelo Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região e pelo Grupo de Prevenção de Acidentes de Trabalho da 6ª Região e aconteceu em novembro.

Embora o home office tenha suas vantagens, possui riscos específicos que precisam ser manejados para evitar prejuízos. Muitos deles impactam na saúde mental e incluem fenômenos como a Fadiga do Zoom e a síndrome de Burnout. Além disso, pode ocorrer a sobrecarga de demandas de trabalho e privadas, afetando especialmente as mulheres. A magistrada também citou planejamento de rotina e pausas ao longo do dia como formas de prevenir os aspectos negativos do teletrabalho. Ela abordou o tema “Saúde mental e home office pós-pandêmico: como prevenir acidentes de trabalho?” e enfatizou aspectos como ambiente do trabalho, psicodinâmica do trabalho e saúde mental e trabalho.

De acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil possui 20,8 milhões de pessoas que podem utilizar o home office, o que corresponde a 22,7% dos postos de trabalho. De maio a novembro de 2020, 8,2 milhões de brasileiros estavam atuando no teletrabalho, segundo aponta o instituto. “A ideia foi parar para refletir sobre o que todos nós vivemos quando abruptamente fomos colocados em home office e a necessidade de analisar os fatores estressores e essa nova dinâmica de trabalho à luz da construção teórica da psicodinâmica do trabalho”, explicou a magistrada.

Entre as principais queixas dos trabalhadores em teletrabalho estão a intensificação de sentimentos negativos, que contribuem para buscar ajuda relacionada a ansiedade e depressão, estresse financeiro e estresse no trabalho. Outras reclamações incluem, também, reuniões intermináveis, síndrome de burnout, dores crônicas e insônia ou má qualidade do sono.

Fadiga do Zoom

Um estudo publicado pelo laboratório de interação humana da Universidade de Stanford aborda um fenômeno denominado “Fadiga do Zoom”. Trata-se de outra fonte de estresse provocada pelas interações mediadas por ferramentas de comunicação por vídeo. As interações passam a ser muito próximas, por meio de um mosaico de rostos, dificultando a captura da linguagem não verbal e aumentando a exposição, especialmente a da própria imagem, que fica sob escrutínio alheio.

“Neste sentido, autocrítica constante pode ser estressante, já que estamos expostos a reflexos de si mesmos com uma frequência e duração sem precedentes. Além disso, o esforço de comunicação é mais árduo”, apontou a magistrada.

Como prevenir

Diante das diversas repercussões negativas no âmbito da saúde mental, a juíza Mirella Cahú fez algumas recomendações para os trabalhadores que estão em home office. Entre elas estão o planejamento da rotina, com horários regulares para acordar, dormir e fazer as refeições e fazer pausas a cada hora para andar e beber água. “É importante, também, identificar se surgem sentimentos ou pensamentos negativos, além de atentar para os períodos de trabalho e não trabalho e buscar formas de distração, a exemplo de atividades físicas e leitura”, enumerou.

Para advogados, magistrados e servidores que atuam em teletrabalho, a magistrada recomendou o planejamento de rotinas, com ajustes de comportamento sobre contatos e comunicação, intervalos entre audiências e tempo de uso do zoom e definição de tempo de trabalho e teletrabalho. “Além disso, é importante fazer um trabalho pedagógico de compromissos processuais e postura em videoconferência e ter em mente a sacralidade do tempo de não trabalho”, frisou.

Neste sentido, os gestores também precisam ficar atentos aos comportamentos dos trabalhadores, a exemplo de ficar muito com a câmera desligada nas reuniões e não interagir com equipe. Outros sintomas que devem servir como alerta são o semblante triste e inexpressivo, a falta de cuidado com a aparência, quando alguém prezava por isso, discursos e falas tristes e queda de produtividade. “Por isso, é preciso manter e reforçar os canais de diálogo, participar de aspectos práticos da vida pessoal do trabalhador e promover capacitações voltadas às necessidades dos trabalhadores e a gestão do home office”, salientou.

O evento

Com o tema “Trabalho num Mundo em Transição: Novas Perspectivas Sobre a Sinistralidade no Meio Ambiente Laboral”, o IX Congresso Pernambucano do Trabalho Seguro propõe um estudo sobre as novas perspectivas para a sinistralidade e o meio ambiente laboral, em um contexto de um mundo em transição. O objetivo é debater sobre aspectos do trabalho em um cenário pós-pandêmico e como o mercado de trabalho vem se amoldando e reagindo a essa nova realidade.

O evento, organizado pelo TRT da 6ª Região e o Getrin6, em parceria com a Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire), foi voltado a magistrados e servidores da Justiça do Trabalho, bem como advogados, empresas e organizações sociais.

 

Fonte: TRT6